sábado, 27 de fevereiro de 2010

Vossa Excelência é um fanfarrão

Com pose de estadista a mascarar o semblante de canastrão, ele discorre sobre a crise política na capital do país. Esbanja indignação. "É tão vergonhoso, é tão escandaloso, meu Deus do céu, como pode chegar nisso aí?" Não há nada de excepcional no desabafo do ex-governador. Declarações parecidas são ouvidas em conversas de botequim, gabinetes ministeriais e nos intervalos das peladas de fim de semana. São uma espécie de senso comum. Passariam despercebidas não fosse um detalhe: tão vergonhoso ou escandaloso quanto o momento vivido por Brasília é o fato de Roriz se apresentar como vestal à sociedade. Como se nada tivesse a ver com o quadro de falência institucional no DF. Coisas de um fanfarrão, diria Capitão Nascimento.

Primeiro governador preso em meio a um processo de corrupção e afastado do cargo por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), José Roberto Arruda (ex-DEM) cresceu na política pelas mãos de Roriz. Entre outras funções, foi seu secretário de Obras. Responsável pelas gravações que provocaram a queda de expoentes do Executivo e do Legislativo, Durval Barbosa presidiu a Companhia de Desenvolvimento do Planalto Central (Codeplan) entre 1999 e 2006, quando Roriz estava à frente do Palácio do Buriti. A digital do ex-governador é facilmente identificada nesta crise. Mais importante: aparece em outras denúncias de desvio de recursos públicos e afronta à legalidade.

A lista é extensa. Vai da negligência com a grilagem a supostos avanços sobre o erário. Em 2007, por exemplo, Roriz renunciou ao mandato de senador para fugir da cassação de mandato e não perder o direito de disputar eleições até 2022. Tomou a decisão depois da divulgação de conversas telefônicas nas quais aparecia negociando a partilha de R$ 2,2 milhões com o ex-presidente do BRB Tarcísio Franklin de Moura.

Com um currículo desses, não seria mais razoável submergir e assistir aos desdobramentos da novela do panetone nos bastidores? Não seria recomendável "trabalhar em silêncio", como dizem os políticos, do que sair a campo para tripudiar do cidadão brasiliense? Tachado de jeca pela oposição, Roriz não é um grande orador nem dotado de capacidade gerencial para resolver os problemas da população.

Mas tem tino para aproveitar as oportunidades.

Com a propaganda eleitoral do PSC, faz uma aposta de alto risco. Ao mesmo tempo em que tira um sarro daqueles que conhecem seu passado, ciente do risco de ser atacado por isso, ocupa o vácuo da política no Distrito Federal. Emerge como opção de salvação da capital. Apresenta-se como solução num momento em que seus adversários tradicionais - PT, PSB e PCdoB - batem cabeça e estão à margem do páreo. E deixa claro para os distritais que está pronto para ser aclamado governador em eventual eleição indireta, dando a cara a tapa em nome da preservação da engrenagem que montaram nos últimos anos.

De quebra, o ex-governador ainda reforça sua condição de favorito na eleição direta prevista para outubro. Avança a passos largos favorecido pelo encolhimento dos adversários.

Nessa toada, só será barrado por uma intervenção: federal, da dobradinha Justiça-Polícia Federal ou do próprio eleitor.

Não custa torcer para que isso ocorra. Afinal, como bem dito na propaganda, haverá punição aos culpados. "Por um lado, eu fico com uma profunda decepção. Por outro, cheio de esperança que a Justiça cumpra seu dever", afirma Roriz na televisão.

A esperança também é nossa, governador.

Até logo Depois de dois anos e meio, deixo o Correio - desculpemme o clichê - em busca de novos desafios. Aos colegas de redação, um abraço pelo companheirismo ao longo da caminha

Tão escandaloso quanto o momento vivido por Brasília é o fato de Roriz se apresentar como vestal à sociedade. Como nada tivesse ver com o quadro de falência institucional no DF. Coisas de um fanfarrão, diria Capitão Nascimento.Correio

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