segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Tá fraco. Tá ruim

Em meio ao escândalo político envolvendo o governador José Roberto Arruda e os fortes abalos que o episódio desencadeou no Democratas, um sinal de alerta também deve ser aceso nas fileiras do principal aliado da legenda, o PSDB. E não se trata somente dos fortes indícios de que o até então presidente tucano no DF, Márcio Machado, coordenou a arrecadação de doações irregulares, o famigerado caixa dois, da campanha de Arruda em 2006.

Mais preocupante, para o PSDB, foram as fraquezas exibidas no programa partidário que foi ao ar em rede nacional na semana passada, expostas como fraturas carentes do devido cuidado médico. A começar pelo esforço em demonstrar uma unidade e coesão que certamente não existem dentro do partido. Os elogios trocados pelos governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas Gerais, Aécio Neves, dão a impressão de que reina nas fileiras tucanas uma paz bem maior do que a que de fato existe diante das pressões envolvendo a escolha do candidato do partido à Presidência da República no próximo ano. Serra e Aécio podem até mesmo admirar a gestão um do outro, e se engajarem sinceramente na campanha do correligionário caso sejam preteridos no processo de seleção interna, mas hoje representam, concretamente, interesses e táticas divergentes no campo da oposição.

Um outro ponto delicado, explorado na televisão, parece emergir do que poderia ser classificada como uma miopia política. Há um entendimento dominante dentro do PSDB de que o partido poderia usufruir de melhor prestígio junto ao conjunto do eleitorado se pelo menos este entendesse que parte dos benefícios macroeconômicos que hoje garantem a satisfação de amplas parcelas da população e são considerados conquistas do governo Lula só foram possíveis por causa dos avanços de estabilização da economia levados adiante pelo governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Independentemente dos problemas com essa leitura, o que os tucanos parecem não entender é que a população já sabe disso. Ela entende que o controle da inflação esteve relacionada com a gestão tucana, primeiro do Ministério da Fazenda em seguida da Presidência da República. Em grande medida, FHC foi reeleito, em 1998, por conta disso. Todavia, a “dívida de gratidão”, digamos assim, já foi paga. O Plano Real não foi suficiente para manter um nível razoável de popularidade para o então presidente quase dez anos atrás, até porque a estabilidade foi profundamente atingida pela crise cambial de 1999. Não foi suficiente para eleger Serra em 2002. Passa longe de ser suficiente para eleger qualquer hoje. Sim, Lula manteve, com poucas alterações, a política econômica baseada no tripé superávit primário, metas de inflação e câmbio flutuante. Mas é difícil negar ou ignorar que o que leva a maioria da população a preferir o governo Lula ao de FHC, dado demonstrado em inúmeras pesquisas de opinião, é justamente o que o petista fez além disso. Não obstante, o PSDB sabe que a comparação lhe é desfavorável. Tanto que o seu ex-presidente não é destacado no programa. O partido apenas tenta pegar carona no sucesso do governo atual, desnudando marcas tucanas – a principal delas cravada no Banco Central.

Para ser justo, o partido explorou, na televisão, as ideias e experiências que, entende, são louváveis dos governos Serra e Aécio. Um acerto, tendo em vista que a aprovação elevada dos dois governadores em colégios eleitorais tão significativos é, de fato, uma força da legenda. Mas pode ser pouco para fazer contraponto ao PT em nível nacional. Serve mais para reforçar a imagem pessoal dos postulantes tucanos do que para danificar o governo.

O quesito críticas ao governo talvez seja o que mais precise ser aperfeiçoado pelo tucanato. Na televisão, o partido tentou criar uma oposição entre a potência mundial que o país está se tornando e um suposto abandono dos interesses da população. Bandeiras do Brasil esvoaçantes ao fundo, fez um apelo artificial ao nacionalismo. Nada mais distante do discurso e do programa governamental “globalizante” de FHC. Se a peça publicitária do partido foi uma prévia de 2010, é hora de os tucanos se preocuparem. Na ânsia de mascarar as características que consideram mais rejeitadas pela população, podem acabar se apresentando como uma desonesta versão piorada do seu próprio adversário, o PT.

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